sábado, 16 de outubro de 2010

The best of us can find happiness in misery

I don't care what you think as long as it's about me
The best of us can find happiness in misery

I don`t care - Fall Out Boy



Eu sei que a banda é meio EMO, mas o essa frase "The best of us can find happiness in misery" é muito boa!
Algo como: o melhor de nós pode achar felicidade na miséria.

Find happiness in misery pode ter várias interpretações:
Como aquela flor que nasce no lixo.
Ou como as sacanagens que o pessoal da banda apronta no vídeo.
Ou tentar se aproveitar da ignorância alheia, tirando proveito de uma má atitude.
Ou a Schadenfreude, o sentimento de alegria ou prazer pelo sofrimento ou infelicidade dos outros.
Assim como no ditado popular: Schadenfreude ist die schönste Freude, denn sie kommt von Herzen - Schadenfreude é a alegria mais bela, já que vem do coração.
Ou quem sente prazer em uma relação sadomasoquista.
Ou até coisas como o abuso de drogas ou de álcool, nesse caso a miséria é a própria miséria.

Além disso, o vídeo também tem coisas muito legais como o Gilby Clark dos Guns`n`Roses falando mal dos Emos e no final se transformando na Sarah Palin, que é o Indio da Costa dos americanos...

Eu não vim até aqui pra desistir agora...

Essa é dedicada a todo mundo que não veio até aqui pra desistir agora!



Eu não vim até aqui pra desistir agora, entendo você se quiser ir embora!

Uma singela homenagem

Uma singela homenagem dedicada ao Homem do Coração.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Considerações a respeito da paternidade

Este blog tem estado parado.
Mas tem estado parado por um bom motivo.
É que eu tenho vivido as emoções e todo trabalho resultante da paternidade.
Acreditem, ser pai cansa.
Eu sei, eu sei, ser mãe cansa muito, muito mais.
De qualquer forma estes primeiros momentos me fizeram fazer uma reflexão, que vou partilhar com vocês logo abaixo:

Muita gente diz que quando se tem filhos, é como se a gente voltasse a reviver a nossa vida de novo outra vez.
Algo assim:
Quando os filhos vão fazer o vestibular, os pais acompanham junto, lembram do seu tempo do vestibular, etc. O mesmo vale também para o primeiro emprego dos filhos.
Antes, quando os filhos tem suas dúvidas e rebeldias da adolescência, os pais lembram do seu tempo e das suas dúvidas e angústias que pareciam que nunca iam passar e de como tudo aquilo hoje não tem mais a menor importância. Enfrentam também o desafio de TER que ser caretas, esquecendo das drogas que usaram e de quanto beberam quando foram adolescentes. Poderiam ensinar como foi com as primeiras namoradas ou namorados. Nesse caso, acho que hoje em dia talvez até aprendam com os filhos...
Continuando, antes, quando menores os filhos, os pais podem lembrar como era brincar e brincar junto com os filhos. E ajudar no tema* da escola e lembrar os filhos de que devem fazer o tema* antes e brincar depois, ainda que quando fossem crianças ficassem remanchando a tarde inteira para terminar o tal tema* só às nove da noite depois da janta.
A assim vai, os pais vão revivendo tudo, a primeira viagem, o primeira volta de bicicleta, a primeira volta de bicicleta sem rodinhas, o primeiro beijo, a primeira pedra no caminho, o primeiro gol, o primeira briga, o primeiro trago, a primeira perda, o primeiro ganho, o primeiro show, o primeiro contato com a morte, o primeiro carro, a primeira ida para praia, o primeira festa, os primeiros etc e etc.
Mas isso todo mundo já sabia.

O que eu descobri e queria compartilhar é que essa identificação já acontece nos primeiros dias que os pais chegam em casa com o bebê.
E como se vivessemos num mundo e de repente, de uma hora para outra nos jogassem num mundo diferente. Exatamente como deve ser o nascimento para o bebê!
É tudo tão novo, são tantas dúvidas, tanto trabalho, tanta coisa pra aprender, tanta coisa pra fazer, tantas atividades que parecem tão fáceis antes e na hora são tão complicadas que os pais ficam atordoados e já não conseguem comer direito, não conseguem dormir direito, não descansam e correm correm de um lado para o outro sem saber como dar conta de tudo.
Nesses momentos dá vontade de chorar!
Chorar pra pedir comida - por favor alguém me traga um almoço, já são 4 da tarde!
Chorar para dormir - já nem sei mais o que é dormir mais do que duas horas sem acordar!
Chorar pra fazer barulho pra cabeça parar de pensar.
Chorar porque quero ir no banheiro e não consigo.
Chorar, chorar, chorar.
Claro que gente é gente grande e não chora.
Mas dá vontade...

Ah, nesses primeiros dias, tudo o que a gente queria era só um colinho e um berço quentinho pra poder descansar.



* explicando pros não gaúchos, tema = dever de casa, ou em bom português: homework.
PS: a maioria das repetições e pleonasmos no texto acima foram feitas de propósito. Ou não?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Por cima de um muro de hipocrisia 2.

Falando sobre essa "polemica" do casamento gay, que foi aprovado na Argentina, vale lembrar que a ILSTM seria totalmente favorável.

Afinal de contas, um dos pilares da ILSTM é "considerar justa toda forma de amor". Se toda forma de amor é justa, ou seja, correta, adequada, não podemos ser contra o casamento gay.

E falando nessa coisa gay, e na mania que alguns grupos, principalmente religiosos, têm de falar em curar o homosexualismo, vou postar abaixo um video que satiriza essa situação, mostrando exatamente como seria o contrário.
Quando invertemos uma dessas situações, nos damos conta de quão absurdo um preconceito pode ser.



A dica do vídeo eu copiei do Blog do Sakamoto.
E os preceitos e orientações da ILSTM são obtidos sempre através da interpretação das Escrituras Sagradas. No caso da ILSTM, as Escrituras Sagradas são obviamente as letras das canções cantadas pelo profeta Lulu Santos.

Proibido proibir

Eu poderia não falar nada hoje.
Ou poderia falar do vento forte e da chuva fria que cortam a pele como faca.
Poderia falar da sexta-feira 13 de agosto e da morte no asfalto na manhã de hoje.

Mas hoje recebi a dica de um video muito engraçado, com um rap, feito em cima do acidente do Werner Schünemann no arroio dilúvio e suas polêmicas declarações. É um assunto muito mais divertido!



As vezes dá mesmo vontade de dizer "É proibido proibir". Ainda que as proibições existam para nos proteger de nós mesmos. Como dira Hobbes, o filósofo, não o amigo imaginário do Calvin, "O homem é o lobo do homem". Então as proibições estão aí para isso mesmo para nos proteger, "enquanto" sociedade, dos outros e até de nós mesmos.

Mas voltando ao "é proibido proibir". As vezes queremos transgredir. As vezes queremos liberdade. Para estes casos, só nos resta pensar "IN VINO VERITAS".

Nota: Estas últimas postagens então enveredando cada vez mais no campo da filosofia: Misturar a gozação do acidente do Werner com Thomas Hobbes é surpreendente. De qualquer forma quem clicar nos link pode aprender mais sobre Hobbes, ou pelo menos os nomes da tira "Calvin e Haroldo" em vários países. Ou várias expressões equivalentes a IN VINO VERITAS.
É isso. Assim são as aulas do professor Fernando F. Uma mistura sem fim.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Por cima de um muro de hipocrisia

Este post é para falar sobre o talvez "maior filósofo vivo da língua portuguesa"* o cantor, guitarrista e compositor Lulu Santos.

Uma vez Lulu cantou “as vezes eu me sinto uma mola encolhida”.

Afinal de contas, quem, principalmente nesses dias chuvosos, tristes, nunca se sentiu “uma mola encolhida”?

Dizer que está de baixo astral, triste, deprê, qualquer um diz.
Mas se sentir uma “mola encolhida” é muito mais que isso. É um amplo aspecto muito mais completo, uma mistura de sentimentos de tristeza, impotência, angústia, força contida até mesmo solidão que a analogia “mola encolhida” traz e que poucas outras expressões conseguem compreender.

Lulu Santos consegue como poucos captar o Zeitgeist, ou seja o espírito do nosso tempo com palavras e analogias fantásticas.

Frases e expressões como “Não leve o personagem pra cama, pode acabar sendo fatal”, "tomar o mundo feito coca-cola", considerar “justa toda forma de amor” e “as vezes eu me sinto uma mola encolhida” são clássicos da filosofia moderna.

Mas vamos agora passar à análise do Mito Fundador da escola de pensamento lulusantiana (ou seria melhor lulusantista?) a profética “Tempos Modernos”.

É uma letra que traz em seu bojo todo um arcabouço teórico-filosófico-revolucionário, tão grande que seria suficiente para fundar além de uma escola filosófica até mesmo uma religião.

Esta seria a Igreja Lulu-Santista dos Tempos Modernos (ILSTM).

O conteúdo de “Tempos Modernos” vai no cerne exato em que uma religião deve se basear.
As religiões deveriam fazer as pessoas viverem melhor. Nunca semear a discórdia, o preconceito e o ódio, como quase todas religiões acabam por fazer.
Religiões deveriam apenas propagar o mais nobre dos sentimentos, o Amor.

Então vamos, juntos entoar este louvor:

Tempos Modernos
Composição: Lulu Santos

Eu vejo a vida
Melhor no futuro (esperança, a base de toda religião)
Eu vejo isso
Por cima de um muro
De hipocrisia
Que insiste
Em nos rodear...(falou tudo, chega de hipocrisia e preconceito)
Eu vejo a vida
Mais clara e farta
Repleta de toda
Satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão... (esperança, fartura, satisfação e alegria no céu e na terra)
Eu quero crer
No amor numa boa (amor, a base de tudo)
Que isso valha
Pra qualquer pessoa
Que realizar**, a força
Que tem uma paixão... (amor, para todos, isso é o fundamento da ILSTM)
Eu vejo um novo
Começo de era (esperança)
De gente fina
Elegante e sincera (os seguidores da ILSTM)
Com habilidade
Pra dizer mais sim
Do que não, não, não...(acabar com a hipocrisia e espalhar o amor só depende de nós)
Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir... (A mensagem final: vamos amar e fazer um mundo melhor, agora, não há tempo a perder. Não há tempo que volte, amor. Vamos viver tudo que há para viver. Vamos nos permitir!!!!)



* Segundo a minha definição

** Neste ponto chegamos à um ápice do poder revolucionario da obra lulusantiana. Além da revolução filosofica, religiosa e comportamental evidentes aqui surge também uma nova revolução. Uma revolução linguística. Quando Lulu Santos usa realizar no sentido do inglês "To Realize", no sentido de "se dar conta de" está provocando uma revolução linguistica. Mais do que isso, está promovendo a união dos povos latinos com os povos anglo saxões. É muito, muito mais do que muitos filosofos jamais ousaram pensar em fazer.
Ou será que Lulu queria dizer realizar no sentido de tornar real? Neste caso "qualquer pessoa" estaria tornando "a força que tem uma paixão" em algo real, palpável. Assim, neste caso teríamos a força revolucionária de uma paixão, do amor, realmente mudando o mundo. That's The Power of Love.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Doces!

Para não dizerem que este blog só fala de coisas amargas, hoje vou falar de doces, apresentando duas receitas internacionais:

Beijing:
Famosa sobremesa chinesa criada em homenagem a sua milenar capital, anteriormente popularmente conhecida no ocidente como Pequim.
A cidade, não a sobremesa.
Beijing resulta da reforma feita pelo governo chinês para padronizar a transliteração dos caracteres chineses para o alfabeto latino.
Para quem não se lembra, transliteração é a transposição de um texto escrito de um alfabeto para outro.
Beijing significa Capital do Norte. Em chinês este delicioso quitute é conhecido por 北京.

Curiosamente o cachorro pequines não virou beijingnes com a nova transliteração.



Vamos a receita, que é basicamente simples, e que não se alterou mesmo com esta "mudança" de nome:
INGREDIENTES
1 lata de leite condensado
1 pacote de 100g de coco ralado
1 colher de café de essência de baunilha
1 colher de sopa de manteiga
MODO DE PREPARO
Meta os ingredientes em uma panela e vá mexendo, em fogo baixo. Não pare de mexer, senão queima, e se queimar vai ser um massacre na praça da paz celestial.
Quando começar a endurecer e você puder ver o fundo da panela, está bom.
Então é só deixar esfriar e comer. Ou, no caso de você ser possuidor de uma paciência oriental, ter um pouco mais de trabalho e fazer o doce no tradicional modo das festinhas chinesas, fazendo bolinhas e passando no açúcar cristal ou no coco ralado.
Pode ser adicionado um cravo em cada doce. O cravo é um simbolo do confucionismo representando a resignação do individuo diante da grandesa da milenar história do império chines.




King Jim:

Já esta deliciosa sobremesa inglesa foi criada em homenagem ao King Jim (Rei James) da Inglaterra.
Para quem não sabe Jim é o diminutivo de James, que é aportuguesado para Jaime.
Embora muitos pensem que se trata de uma homenagem ao rei Jaime VI e I na verdade esse doce foi criado em homenagem à outro Jaime ou James, o rei James II (ou VII).
Neste momento temos que fazer uma pausa para explicar confusão quanto ao número do James ou Jaime, se era VI ou I ou se era II ou VII. O negócio é o seguinte: o primeiro era o Rei Jaime VI da Escocia e foi depois o Rei Jaime I da Inglaterra e da Irlanda. Viveu entre 1566 e 1625. O segundo, que era conhecido como Jaime II da Inglaterra, na Escócia tinha o título de Jaime VII e viveu entre 1633 e 1701.


O motivo pelo qual a sobremesa King Jim foi criada em homenagem ao Rei Jaime II é grande simbolismo presente na preparação desta sobremesa durante o ato da necessária quebra dos ovos. A quebra dos ovos, radical ato de ruptura, representa a ruptura radical ocorrida na Inglaterra com a revolução gloriosa, que depôs o Rei Jaime II.
A Revolução Gloriosa é considerada por alguns historiadores como um evento mais importante que a revolução francesa. A grosso modo, pode se dizer que enquanto a revolução francesa "criou" a modernidade nos aspectos filosóficos e políticos a revolução gloriosa "criou" a modernidade no que tange aos aspectos econômicos proporcionando os fundamentos para o desenvolvimento do capitalismo como forma econômica dominante.
Voltando ao Rei James II e ao doce King Jim propriamente dito, esta sobremesa foi muito popular no meios religiosos de Portugal devido ao fato de Jaime II ter se convertido ao catolicismo e ser uma espécie de martir, ainda que sem morte, da religião católica. Isso fez com que a degustação da iguaria que leva o seu nome, não obstante o perigo de incorrer no pecado da gula, fosse também uma forma de afirmação religiosa católica.
INGREDIENTES
30 gemas peneiradas (ou seja, 30 atos radicais de ruptura das rígidas porém frágeis estruturas estabelecidas!)
250 ml de leite
500 g de açúcar refinado
150 g de coco ralado fresco
suco de uma metade de um limão
1 pitada de sal
MODO DE PREPARO
Numa tigela coloque as gemas, o leite, o açúcar, o coco, o suco de limão e o sal, ou seja, coloque tudo numa tigela. Para fazer um King Jim matador, sugerimos utilizar uma tigela Slayer. Misture bem com o auxílio de uma colher de pau. Transfira a mistura para uma forma de pudim untada com manteiga e polvilhada com açúcar. Leve para assar em banho-maria em forno alto (250º C) por alguma coisa em torno de aproximadamente 91 minutos e 37 segundos. Podem ser usadas forminhas pequenas para fazer porções individuais, caso você embora esteja fazendo uma sobremesa tradicional inglesa seja possuidor da paciência oriental.
Desenforme ainda quente, lembrando que as revoluções só são vitoriosas quando muitos fatores conspiram a favor.

Apenas...

Aviso: este blog não faz apologia à prostituição, apenas ao bom português.

O centro de Porto Alegre está infestado por esse tipo de cartaz como o da foto abaixo. Gatíssimas, tudo bem, mas "vale apena" é demais!



E não é preconceito. Falar errado, escrever errado, tudo bem. Mas imprimir e colar milhares de cartazes é outra coisa.
Será que quem fez o cartaz imaginou que "apena" é o singular de "apenas"?

Vale a pena, vale o esforço, vale o trabalho de ir lá conferir, Ap. 30,00(?).
Eu pessoalmente acho que não vale, mas vi esse cartaz tantas vezes que achei que valeria a pena colocar no blog, apenas para ter mais um assunto para falar.

Outra: Há um tempo atrás havia um cartaz de outro estabelecimento do mesmo ramo de atividades que avisava "A cada 10 atendimentos, ganhe um de graça".
O curioso é como deveria ser feito o controle: Será que o cliente andaria com o cartão de fidelidade do puteiro na carteira?
Isso é mais um paradoxo! Quem sabe o mais adequado não seria mesmo um "cartão de infidelidade"?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Slayer!

Essa é realmente bizarra!
Estava no supermercado uns dias atrás e vi essas tigelas para vender.
O problema é o nome, a marcas das tigelas:
SLAYER!




Será uma homenagem a uma das mais radicais bandas de thrash metal, uma das big four?
Mas o que tem a ver a banda Slayer com uma tigela transparente?
Ainda mais uma banda com músicas com letras tão "bonitas" como Angel of Death ou Necrophiliac?

Então pode não ser uma homenagem a banda e sim um nome baseado no significado da palavra Slayer. Mas qual o sentido de chamar uma tigela de "matador" ou "assassino".
Se fosse uma faca, vá lá. Ou então algo que denotasse atitude, potência. Um skate Slayer, um aparelho de som Slayer, mas umas tigelas transparentes?
Será que é para comer doce com raiva e atitude?
Comer doce curtindo um momento Slayer como nos vídeos abaixo?





A proposito: Meu disco do Slayer preferido ainda é o primeiro deles, o ótimo "Show no Mercy".

terça-feira, 29 de junho de 2010

A "desinvenção" do Brasil - O São João Gaudério

Vejam a notícia bizarra abaixo, copiada da Zero Hora de 28/06/2010:

"SEM PINHÃO E PIPOCA
O berço do tradicionalismo gaúcho fez uma festa junina bem diferente da caipira. Neste ano, o Colégio Júlio de Castilhos, na Capital, trocou o pinhão e a pipoca por um almoço reforçado à base de carreteiro de charque e feijão campeiro.

Pilchados, funcionários da escola tomaram chimarrão ao som de música gaudéria ao vivo. O casamento na roça foi trocado pela apresentação do repentista Vitor Hugo. Até o ex-aluno e criador do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Paixão Côrtes aproveitou para participar do festejo.

Tudo para reforçar o sentimento de amor às tradições nos alunos. A ideia dos professores e diretores do MTG é fortalecer a imagem do Julinho como local onde nasceu o movimento.
– Quem ama o tradicionalismo deve ter devoção a esse local onde tudo começou – diz o coordenador da 1ª região do MTG Cesar Comazzini.
(...)A partir de agora, as comemorações de São João serão feitas à moda regionalista.
– No princípio, os alunos resistiram, mas agora já estão gostando – afirma a diretora Leda Oliveira Gloeben.
JOANA MARINS

“A festa tem uma ideologia” - Paixão Côrtes, fundador do Movimento Tradicionalista Gaúcho

Confira a entrevista feita por ZH com o tradicionalista, no evento.
ZH – Qual a diferença entre a festa junina caipira e a gaúcha?
Paixão Côrtes – Na festa gaúcha, tudo tem uma mensagem, uma ideologia. Ensinamos aos jovens valores da família, da religião. Já a festa caipira faz uma comédia primitiva.
ZH – Como é essa comédia?
Paixão – Nos casamentos caipiras, a figura do juiz é ridicularizada, a do delegado e a da família também, com a jovem casando grávida, condenada.
ZH – Como passar a mensagem certa aos jovens?
Paixão – Dando orientação moral e religiosa, e não jocosa."


Parece que o MTG quer acabar com uma das coisas boas que o Getúlio Vargas fez, que foi a “invenção” do Brasil. O Getúlio criou, ou melhor, incentivou e ajudou a sedimentar a idéia de uma cultura brasileira. Uma música, uma culinária, um folclore brasileiros. Foi quem primeiro tentou fazer do Brasil uma nação com uma cultura um pouco mais homogênea.

Quando o MTG vem com essas idéias, negando a cultura brasileira e impondo uma cultura gaudéria, está indo pelo caminho errado.
Estão querendo “desinventar” o Brasil.

Se querem definir regras, padrões e seguir a tradição dentro do CTG, tudo bem.
Mas sair do CTG e impingir essa “tradição” em cima das festas juninas, é demais. E parece que isso está se espalhando para as outras escolas.
Daqui a pouco vão querer institucionalizar um Natal gaudério? Uma Páscoa gaudéria? Ou, pior, quem sabe até transformar uma das mais importantes tradições brasileiras e nos obrigar a festejar um Halloween gaudério?

terça-feira, 22 de junho de 2010

Dunga X Globo!

E agora, essa briga da Globo com o Dunga!
Pra quem não sabe, resumindo, o Dunga quis barrar a exclusividade da Globo nos batidores da Copa e a Globo baixou o sarrafo no Dunga.
O cara tenta moralizar a zona e a Globo quer que a Fifa dê uma punição por que o cara falou uns palavrões!
É muita hipocrisia.
Isso lembra aquela piada do "Bacanal família".
É assim: Era uma vez um bacanal, onde podia fazer tudo, ninguém era de ninguém, mas falar palavrão não podia. Falou palavrão, era obrigado a vestir a roupa e ir embora.

Achei essa figura do Dungobama por aí, muito engraçada:



Detalhes aqui, aqui, aqui, aqui e abaixo os videos da coletiva e da resposta da Globo.

A coletiva:


"levar a melhor informação":

sábado, 19 de junho de 2010

1º Festival de Heavy Metal

Essa vem do fundo do baú. Mexendo nas coisas antigas guardadas, achei um cartaz de um show que eu fui há (caramba!) quase de 26 anos atrás!
Ainda lembro, fui com meu amigo "James" lá no auditório Araújo Viana, muito antes daquela maldita cobertura. Um festival de Heavy Metal!
Coisas interessantes que se nota no cartaz:
- Os nomes das bandas, típicos do heavy nacional do meio dos 80. Todas cantavam em português, isso foi antes do Sepultura. A "mais famosa" era a Frutos da Crise, fazendo uma participação especial. A Frutos da Crise era uma das bandas que participou do disco Rock Garagem, e tocava no rádio (na velha e boa Ipanema FM) com frequência.
- O preço do ingresso: 1500 cruzeiros! Vejam o que era viver com inflação.
- O patrocinio da loja de discos "Disco Voador". A Disco Voador, era "a loja que só bota coisa boa na roda", conforme dizia a propaganda com locução da Katia Suman. A propósito, a trilha de fundo da propaganda era a ótima música Griffons Guard The Gold, da banda holandesa Picture.
- O dono da "Disco Voador" era o Ricardo Barão. Foi ele quem fez (produziu, organizou, juntou as bandas, promoveu, tudo) o disco Rock Garagem.
- Além disso, o Ricado Barão tinha um programa na Ipanema todas as noites às 23 horas. O programa era o "Central Rock". A Kátia fazia o horário das 20 às 23h e depois entrava o Barão.
- Sempre tocando uma variedade enorme de estilos de rock, inclusive com boas doses de Heavy Metal, o programa era uma verdadeira aula de rock. Se hoje eu ainda lembro o nome de uma meia dúzia de bandas, músicas e discos, muito disso se deve ao Ricardo Barão.

Bom, chega de viagem sentimental por hoje!



quinta-feira, 17 de junho de 2010

No clima da copa, publicidade argentina.

Continuando nesse clima de copa do mundo, vou mostrar umas propagandas argentinas com que tem o "mundial de futból" como tema.
Estive a pouco em Buenos Aires e essas propagandas passavam direto. E achei essas publicidades melhores que as daqui. Então abaixo estão, uma da Coca, outra da Claro e outra da cerveja Quilmes. Bom proveito!







quarta-feira, 16 de junho de 2010

Entrando no clima da copa do mundo

Este texto foi pescado no Blog do Sakamoto. O blog fala de coisas "feias e sujas" que infelizmente fazem parte da nossa sociedade. O link está permanente na barra ao lado.
Mas voltando ao texto, entrando no clima de copa do mundo, fala sobre a triste realidade do trabalho infantil e o sonho de ser jogador de futebol.

O sonho de Jonas era ser jogador de futebol

Cerqueiros perfuram o chão, plantando mourões e passando arame por quilômetros a fio sob o sol forte da Amazônia. O serviço é pesado: dependendo do relevo, a cabeça arde por dias até que se complete um quilômetro de cerca. O pequeno açude, turvo e sujo, serve para matar a sede, cozinhar e tomar banho. Um perigo, pois a pele fica impregnada com o veneno borrifado para tratar o pasto. Dessa forma, a terra vai se dividindo – não entre os cerqueiros, que continuarão sonhando com o dia em que plantarão para si, mas em grandes pastos para os bois. Dentre os trabalhadores, olhos claros e pele queimada, Jonas*, de 14 anos.

Analfabeto, me contou que morava em uma favela em Eldorado dos Carajás (PA) com a família adotiva e ia ao campo para ganhar dinheiro. Foi dado de presente pela mãe aos três anos de idade e trabalhava desde os 12 para poder comprar suas roupas, calçados, fortificantes e remédios – até então, já tinha pego uma dengue e cinco malárias. Com o que ganhava no serviço, também pagava sorvetes e lanches para ele e seus amigos. E só. Segundo Jonas, a adolescência não era tão divertida assim: “brincadeira lá é muito pouca.”

A lei é bem clara – nessa idade, permite ao jovem apenas a condição de aprendiz, em uma escola destinada a esse fim. O trabalho que Jonas realizava só seria permitido a partir de 18 anos e, ainda assim, sem as condições insalubres a que estavam expostos os cerqueiros.

Seu padrasto era um dos “gatos” da fazenda. Gato é como são chamados os contratadores de serviços, que arregimentam pessoas e fazem a ponte entre o empregador e os peões. Porém, isso não lhe garantiu nenhum tratamento especial: teve que descontar do salário a bota que usava para trabalhar. Perguntei para o padrasto se isso era justo. Ele, de pronto, me respondeu que não considerava a venda do calçado para o próprio filho errado e justificou: “como vou sustentar a minha mulher?”

O alojamento que Jonas dividia com os outros era feito de algumas toras fincadas no chão, um pouco de palha e uma lona cobrindo tudo. O sol transformava a casa improvisada em forno, encurtando, assim, a hora do almoço. Redes faziam o papel de camas, penduradas aqui e ali para embalar, entre um dia e outro de trabalho, os sonhos das pessoas. O de Jonas, como vários outros rapazes da sua idade, era ser jogador de futebol.

Presença garantida nos times dos mais velhos, participava de jogos e campeonatos quando eles aconteciam. Queria ser profissional, mas apesar de gostar dos times do Rio de Janeiro e de São Paulo, preferia ficar lá mesmo no Pará – quem sabe, algum dia, vestindo as camisas do Paysandu ou do Remo. Por nunca ter ganho na vida um presente de aniversário, não esperava nada naquele ano. Mas disse que pediria uma bola – se pudesse.

Centenas de crianças e jovens no Brasil abandonam a escola e trabalham desde cedo para ajudar as finanças em casa ou mesmo se sustentar. Muitas estão sujeitas a condições degradantes, como Jonas. Perdem dedos nas máquinas de apurar fibras de sisal, queimam braços e pernas nos fornos de carvoarias, catam latinhas de alumínio nos lixões das grandes cidades. Em casos extremos, são obrigados a trabalhar só por comida e impedidos de sair enquanto não terminarem o serviço.

Muitos deles, como Jonas, queriam ser jogadores de futebol. Talvez porque gostem do esporte como nós. Ou talvez porque vejam nele a possibilidade de se verem livres daquela vida, com a bola carregando-os para bem longe, longe o bastante para nunca mais voltar.

*Mudei o nome para garantir a integridade de Jonas.

Chega de preguiça, vamos voltar...

Bah, faz tempo que não escrevo nada por aqui.
A verdade é que não tenho tido saco de escrever nada.
É um problema, a falta de paciência....
São muitas horas trabalhando na frente do computador. Em casa não me animo nem a ligar...

E são muitas coisas que eu poderia comentar, mas as ideias vão passando e vão sumindo. Outras vão perdendo o timing. Depois vou fazer alguns comentários, mesmo que fora de época.
De qualquer forma, mesmo não escrevendo nada, eu uso o blog quase que diariamente para olhar as atualizações dos outros blogs, por aí na barra do lado está tudo o que acompanho. Toda hora adiciono um link novo.
Não era a minha idéia incial colocar textos copiados de outros blogs e outras fontes mas é uma das coisas que vou começar a fazer para aumentar as postagens do blog.
Também assim é uma forma de guardar (e compartilhar) textos que acho interessantes e que vão se perdendo pelo ciberspaço infinito.
Independente de copyrights vou colocando alguma coisa por aí.
E tem umas coisas novas também, mas vamos com calma.
Até.

domingo, 14 de março de 2010

O "politicamente correto" e a falcatrua.

Eu até gosto dessa história do "politicamente correto". Na maioria dos casos é uma forma muito mais adequada de se referir a grupos ou pessoas. As vezes pode ser exagero ou engraçado, como chamar um anão de "verticalmente desfavorecido", mas a forma do "politicamente correto" é uma forma de mostrar respeito pelo outro e disfarçar o preconceito que a nossa sociedade finge não existir.

Mas o ponto que eu quero comentar, nesta divagação barata, é quando se usa uma expressão de linguagem semelhante ao "politicamente correto" com a intenção clara de iludir, uma verdadeira falcatrua. Foi o que aconteceu quando inventaram de vender carros "seminovos". Antigamente o carro era novo ou era usado. Até o dia em que uma conhecida locadora inventou esse nome sem-vergonha para vender seus carros usados.
Outra verdadeira falcatrua é o "sabor idêntico ao natural" nos sucos, iogurtes e "alimentos" em geral. Ora bolas, ou é natural ou é artificial. Que palhaçada é essa de "sabor idêntico ao natural". Sim, é uma forma de enganar o cliente, ou, como dizia um amigo meu, "enrolar merda em papel de seda".
O meio empresarial, de auto ajuda e de RH também é fértil na criação dessas bobagens.
Inventaram de chamar problemas de "oportunidades", pontos fracos de "oportunidades de melhorias" e até o velho e bom(?) departamento de pessoal, o popular DP, virou "Talentos Humanos". Como disse já um consultor de negócios há tempos atrás, as empresas não precisam de só de talentos, precisam é de gente normal que trabalhe, e de preferência, ganhe pouco e não reclame!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Tempo de matar cavalos

Alguém me diga:
-Qual a utilidade dessa palhaçada, além de bostejar a praia e matar cavalos?

Abaixo a coluna do Juremir Machado da Silva, publicada 25/02 no Correio do Povo, falando sobre essa "cavalgada do mar":

Tempo de matar cavalos

Meu avô era um sábio analfabeto. Certas coisas ele não compreendia: as mulheres que via na televisão bronzeando-se ao sol do meio-dia e homens cansando cavalos inutilmente. Antes de os cientistas darem o alerta ele já conhecia os perigos do sol para a pele dos humanos e para o fôlegos dos animais. Meu pai seguia a mesma lei: no verão, não se encilhava cavalo das 11 horas da manhã até quatro e meia da tarde. Salvo extrema necessidade. Por isso, levantavam muito cedo. As principais lides campeiras tinham de ser feitas antes de o sol ganhar o alto do céu. Andar a cavalo sem necessidade no calor era para eles coisa de gente da cidade. Pior do que isso, era algo condenável. Bárbaro.

As notícias de que dois cavalos morreram na tal cavalgada do mar horrorizariam meu avô e meu pai. Eles adoravam cavalos. Cuidavam deles com muito carinho. Veriam nessa exibição de cavaleiros urbanos, num dos verões mais quentes dos últimos tempos, um exibicionismo despropositado, uma falta de conhecimento escandalosa e uma maldade intolerável com os bichos. Para quê? Mais espantoso é o lema da brincadeira deste ano: “mulheres a cavalo pelo Rio Grande”. Um gaúcho verdadeiro, da campanha, diria com algum deboche: parem com isso, soltem os cavalos pelo Rio Grande. Com um solaço desses só há uma coisa a fazer: ficar mateando ou sesteando embaixo de um cinamomo. O resto é frescura de gente maturranga.

A secretária da Cultura, Mônica Leal, está contribuindo para maltratar cavalos na beira do mar. Ela é entusiasta desse tipo de ação cultural. Enquanto ela ajuda a estafar cavalos, sentindo-se uma nova Anita, a cultura do Rio Grande do Sul estrebucha. A sala de cinema Norberto Lubisco foi fechada. Tem cinema no shopping. Voltaire Schilling, um dos nossos intelectuais mais brilhantes e tradicionais, foi demitido da direção do Memorial do Rio Grande do Sul. Parece que ele não tinha o que conversar com a chefe. Afinal, não é de andar a cavalo na praia com sol quente. A casa está caindo, os cavalos morrendo, o circo pegando fogo. Mas a secretária Mônica Leal está firme na montaria. Sempre. Ela é dura na queda. Corresponde a todos os clichês imagináveis.

Agora, entre nós, há sem dúvida um ponto obscuro, um elemento que exige investigação séria: por que mesmo Mônica Leal tornou-se secretária da Cultura? É um tempo estranho este. Quando não há mais necessidade alguma de movimento, todos querem se deslocar. Especialmente pelos meios mais anacrônicos. Pode haver algo mais excitante do que permanecer no lombo de um cavalo, com o sol a pino, até o bicho morrer? Tudo isso em nome da tradição! Os franceses do século XVIII usavam perucas empoadas. O Ministério da Cultura da França devia lutar pela recuperação dessa tradição eliminada pela modernidade. Vou comprar um cavalo para matar na próxima cavalgada.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Gaúchos adoram rodízio!

Depois do "Luz para todos" do Governo Federal, o Governo Estadual para não ficar atrás lançou o "Falta de Luz para todos".
Manchete da ZH de hoje:
"Calorão faz CEEE criar rodízio de corte de luz"

Última moda em São Paulo.


Essa é a nova moda em São Paulo, a capital do concreto!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Haiti não é aqui?

Será mesmo que, como diz a canção do Gil&Caetano, o Haiti não é aqui?
Semelhanças históricas existem.


A história do Haiti é a história do racismo na civilização ocidental* * por Eduardo Galeano

A democracia haitiana nasceu há um instante. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e doentia não recebeu senão bofetadas. Era uma recém-nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raoul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de haver posto e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos retiraram e puseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que tivera a louca ideia de querer um país menos injusto.



O voto e o veto

Para apagar as pegadas da participação estadunidense na ditadura sangrenta do general Cedras, os fuzileiros navais levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para recuperar o governo, mas proibiram-lhe o poder. O seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, mas mais poder do que Préval tem qualquer chefete de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha eleito nem sequer com um voto.

Mais do que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum dos seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, letras aos analfabetos ou terra aos camponeses, não recebe resposta, ou respondem ordenando-lhe:

– Recite a lição. E como o governo haitiano não acaba de aprender que é preciso desmantelar os poucos serviços públicos que restam, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores dão o exame por perdido.


O álibi demográfico

Em fins do ano passado, quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Mal chegaram, a miséria do povo feriu-lhes os olhos. Então o embaixador da Alemanha explicou-lhe, em Porto Príncipe, qual é o problema: – Este é um país superpovoado, disse ele. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.

E riu. Os deputados calaram-se. Nessa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou os números. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, mas está tão superpovoado quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilômetro quadrado.

Durante os seus dias no Haiti, o deputado Wolf não só foi golpeado pela miséria como também foi deslumbrado pela capacidade de beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado... de artistas.

Na realidade, o álibi demográfico é mais ou menos recente. Até há alguns anos, as potências ocidentais falavam mais claro.


A tradição racista

Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do Citybank e abolir o artigo constitucional que proibia vender as plantations aos estrangeiros. Então Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem "uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização". Um dos responsáveis pela invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a ideia sagaz: "Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses".

O Haiti fora a pérola da coroa, a colônia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com mão-de-obra escrava. No Espírito das leis, Montesquieu havia explicado sem papas na língua: "O açúcar seria demasiado caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos são negros desde os pés até à cabeça e têm o nariz tão achatado que é quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro".

Em contrapartida, Deus havia posto um açoite na mão do capataz. Os escravos não se distinguiam pela sua vontade de trabalhar. Os negros eram escravos por natureza e vagos também por natureza, e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir o amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrava o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: "Vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e de costumes dissolutos". Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro "pode desenvolver certas habilidades humanas, tal como o papagaio que fala algumas palavras".


A humilhação imperdoável

Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos haviam conquistado antes a sua independência, mas tinha meio milhão de escravos a trabalhar nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era dono de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.

A bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém lhe comprava, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia.


O delito da dignidade

Nem sequer Simón Bolívar, que tão valente soube ser, teve a coragem de firmar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar havia podido reiniciar a sua luta pela independência americana, quando a Espanha já o havia derrotado, graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano havia-lhe entregue sete naves e muitas armas e soldados, com a única condição de que Bolívar libertasse os escravos, uma ideia que não havia ocorrido ao Libertador. Bolívar cumpriu com este compromisso, mas depois da sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvo. E quando convocou as nações americanas à reunião do Panamá, não convidou o Haiti mas convidou a Inglaterra.

Os Estados Unidos reconheceram o Haiti apenas sessenta anos depois do fim da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um gênio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque têm pouca distância entre o umbigo e o pênis. Por essa altura, o Haiti já estava em mãos de ditaduras militares carniceiras, que destinavam os famélicos recursos do país ao pagamento da dívida francesa. A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indenização gigantesca, a modo de perdão por haver cometido o delito da dignidade.

A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Diferenças entre "nós" e a Europa

Uma discussão que se faz constantemente é uma comparação entre o "nós" - o Brasil, o RS, Porto Alegre - e o "primeiro mundo", os "países civilizados" e especialmente a Europa.

Lógico que a Europa está na frente de nós em muitos aspectos, não há o que discutir.

A dúvida é a seguinte: será que essa distância é maior ou menor hoje do que há 30, 40 anos atrás.

Eu acho essa distância hoje é maior.
Se por um lado as tecnologias, mídias e equipamentos (Internet, DVDs, TV por assinatura, cinema, computadores, etc.) são basicamente as mesmas e são lançadas simultaneamente nos dando a ilusão que nos aproximamos do "primeiro mundo", por outro lado eu sinto que nos afastamos cada vez mais do modo de vida "civilizado" no que tange ao respeito aos direitos do cidadão e da coletividade.

Assuntos como transporte coletivo, planejamento urbano, preservação do patrimônio histórico, preservação ambiental, coleta de lixo, tratamento de esgoto, manutenção de áreas verdes, economia solidária, educação e saúde públicas, passam muito longe das decisões dos agentes políticos. Principalmente nas cidades, onde afetam mais diretamente as pessoas que nelas vivem.

Para exemplificar reproduzo abaixo um trecho retirado de um texto do Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim, que exemplifica um pouco o que estou querendo dizer:

(...)
O que me fez lembrar de um bom amigo, o Kai.
Kai é maratonista impecável, fundista da seleção olímpica da Alemanha.
E especialista em “energia renovável”.
Um dia, Kai veio a São Paulo vender projetos de energia eólica.
Encontramo-nos no “A Figueira”, em São Paulo, para que Kai pudesse destroçar uma picanha com fúria visigótica.
E Kai saiu-se com essa, num português obsceno: “Descobrrrrrrrrri a cidade mais corrrrrrrrrrrrupta do mundo”.
Qual é Kai ?, perguntei.
São Paulo, ele respondeu.
Por que você acha isso ? Você não sabe nada de São Paulo. Deixa essa arrogância germânica para lá.
Não, Paulo Henrrrrrrrrrrrrique. Hoje, pela prrrrrrrrrrimeira vez, eu pousei em São Paulo de dia, sem nuvens. E pude terrrrrrrrr uma ideia do volume de prrrrrrrrrrédios que a cidade tem. É uma murrrrrrrrrrralha de concreto, de 360 graus. E da falta absoluta de verrrrrrrrrrrrrrde.
E o que tem isso a ver com corrupção, Kai ?
Só numa cidade absolutamente corrrrrrrrrrrupta terrrrrrrrrria sido possível construir tantos prédios sem árrrrrrrrrrrrrrea verrrrrrrrrrrrrde.
Kai mora entre Berlim e Nova York.
Paulo Henrique Amorim

RS - Melhor em tudo!

Mais uma para a série, Rio Grande, melhor em tudo.
Copiado do RS Urgente, do Marco Weissheimer

RS, primeiro lugar em tudo



O Grupo SOMOS Comunicação, Saúde e Sexualidade espalhou diversos outdoors pelas ruas de Porto Alegre estampando a frase: RS 1° lugar em tudo e logo em seguida traz alguns dados dos recordes negativos, como a que afirma que Porto Alegre é a capital brasileira com o maior número de Aids por habitante do país.

O objetivo do grupo foi chamar a atenção da população, das autoridades e, principalmente, dos participantes do Fórum Social Mundial, para a má gestão da saúde no Estado e na Prefeitura de Porto Alegre, que tem contribuído para deixar o Rio Grande do Sul e Porto Alegre - com o maior número de casos por cada 100 mil habitantes.

Mesmo após a coletiva no SIMERS – Sindicato Médico do Rio Grande do Sul no último dia 11 de janeiro, onde foi deliberado o encaminhamento das denúncias ao Ministério Público Federal e Estadual, nada foi resolvido. Gustavo Bernardes, coordenador Geral do SOMOS tem recebido diariamente denúncias de diversas pessoas que vivem com aAds que tem ido procurar seus resultados de exames de carga viral e CD 4 feitos no LACEN e que os mesmos não estão sendo realizados no prazo previsto. “Tem pessoas vindo do interior do Estado buscar seus exames e eles não estão prontos e dizem que os exames feitos em dezembro terão que ser descartados e refeitos, causando enormes transtornos para população que vive com HIV/Aids”, afirma.

Sobram problemas na gestão Estadual e Municipal. No Estado a Política não tem nem coordenação e os recursos de prevenção para as ONGs estão parados desde 2008. No município o gestor não investe em prevenção e falta diálogo com a sociedade civil, denuncia ainda a entidade. Para monitorar e reunir as informações sobre o tema foi criado um blog http://www.rsprimeirolugaremtudo.blogspot.com

Xadrez

Achei isso por aí na net, são diferentes tabuleiros de Xadrez um para cada tipo de situação.


Clique para ampliar.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O jornalismo derrotado

(Um texto muito interessante, atual e pertinente)

Por Marcos Rolim (*)

A julgar pelos noticiários, um fantasma assola o Brasil: o Programa Nacional de Direitos Humanos em sua 3º versão (PNDH-III). Todas as potências da Santa Aliança unem-se contra ele: setores da mídia, políticos conservadores, o agronegócio, os militares e a cúpula da Igreja. Os críticos afirmam que o programa propõe a “revisão da Lei de Anistia”, que é autoritário ao propor “controle sobre os meios de comunicação”, além de ser “contra o agronegócio”. Radicalizando, houve quem –fora dos manicômios - identificasse no texto disposição por uma “ditadura comunista”. É hora de denunciar esta farsa onde a desinformação se cruza com o preconceito e a manipulação política.

Auxiliei a redigir o texto final do Programa, juntamente com os professores Paulo Sérgio Pinheiro e Luiz Alberto Gomes de Souza. A parte que me coube foi a da Segurança Pública, mas participei de todos os debates. Assinalo, assim, que a 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos havia proposto uma “Comissão de Verdade e Justiça”; nome que traduzia a vontade de “investigar e punir” os responsáveis pelas violações durante a ditadura. O PNDH-III, entretanto, propôs uma “Comissão da Verdade”, porque prevaleceu o entendimento de que o decisivo é a recuperação das informações, ainda sonegadas, sobre as execuções e a tortura. O Programa não fala em “revisar a Lei da Anistia”; pelo contrário, afirma que a Comissão deve “Colaborar com todas as instâncias do Poder Público para a apuração de violações de Direitos Humanos, observadas as disposições da Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979”. Para quem não sabe, a lei citada é a Lei de Anistia. A notícia, assim, era o afastamento da pretensão punitiva. O caminho escolhido, como se sabe, foi o oposto; o que não assinala informar mal, mas desinformar, simplesmente.

No mais, é interessante que os críticos nunca tenham se manifestado quando, no período do presidente Fernando Henrique Cardoso, propostas muito semelhantes foram apresentadas. Senão vejamos: no que diz respeito aos conflitos agrários, o PNDH-I (1996) já propunha “projeto de lei para tornar obrigatória a presença no local, do juiz ou do Ministério Público, no cumprimento de mandado de manutenção ou reintegração de posse de terras, quando houver pluralidade de réus, para prevenir conflitos violentos no campo, ouvido também o INCRA”. O PNDH-II, seis anos depois, repetiu a proposta. Qual a novidade, neste particular, do PNDH-III? Apenas a idéia de mediação dos conflitos; prática que tem sido usual e que seria institucionalizada por lei. A Senadora Kátia Abreu, então, pode ficar tranqüila. Se o governo apresentar o projeto, ela terá a chance de se posicionar contra a mediação de conflitos e exigir que o tema seja resolvido à bala, como convém a sua particular concepção de democracia.

Quanto à reação ao tal “ranking” de veículos comprometidos com os direitos humanos, o assombro é ainda maior, porque o primeiro PNDH trouxe a ideia de: “Promover o mapeamento dos programas de rádio e TV que estimulem a apologia do crime, da violência, da tortura, das discriminações, do racismo,(…) e da pena de morte, com vistas a (…) adotar as medidas legais pertinentes”. A mesma proposta foi repetida no PNDH-II. Assinale-se que o PNDH-II propôs, além disso: “Apoiar a instalação do Conselho de Comunicação Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e TV (…) e coibir práticas contrárias aos direitos humanos” e “Garantir a fiscalização da programação das emissoras de rádio e TV, com vistas a assegurar o controle social (…) e a penalizar as empresas (…) que veicularem programação ou publicidade atentatória aos direitos humanos”. Uau! Não são estas as armas dos inimigos da “liberdade de expressão”? Mas, se é assim, porque os críticos não identificaram o “ovo da serpente” na época?

Mais uma vez, ao invés de aprofundar o debate sobre as políticas públicas, a maior parte da mídia se deliciou com a reação vexatória dos militares, com o oportunismo da direita e com o medievalismo da Igreja e o fez às custas da informação, para não variar.

(*) Jornalista e sociólogo, professor da Cátedra de Direitos Humanos do IPA e consultor em segurança pública e direitos humanos. Ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.