"SEM PINHÃO E PIPOCA
O berço do tradicionalismo gaúcho fez uma festa junina bem diferente da caipira. Neste ano, o Colégio Júlio de Castilhos, na Capital, trocou o pinhão e a pipoca por um almoço reforçado à base de carreteiro de charque e feijão campeiro.
Pilchados, funcionários da escola tomaram chimarrão ao som de música gaudéria ao vivo. O casamento na roça foi trocado pela apresentação do repentista Vitor Hugo. Até o ex-aluno e criador do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Paixão Côrtes aproveitou para participar do festejo.
Tudo para reforçar o sentimento de amor às tradições nos alunos. A ideia dos professores e diretores do MTG é fortalecer a imagem do Julinho como local onde nasceu o movimento.
– Quem ama o tradicionalismo deve ter devoção a esse local onde tudo começou – diz o coordenador da 1ª região do MTG Cesar Comazzini.
(...)A partir de agora, as comemorações de São João serão feitas à moda regionalista.
– No princípio, os alunos resistiram, mas agora já estão gostando – afirma a diretora Leda Oliveira Gloeben.
JOANA MARINS
“A festa tem uma ideologia” - Paixão Côrtes, fundador do Movimento Tradicionalista Gaúcho
Confira a entrevista feita por ZH com o tradicionalista, no evento.
ZH – Qual a diferença entre a festa junina caipira e a gaúcha?
Paixão Côrtes – Na festa gaúcha, tudo tem uma mensagem, uma ideologia. Ensinamos aos jovens valores da família, da religião. Já a festa caipira faz uma comédia primitiva.
ZH – Como é essa comédia?
Paixão – Nos casamentos caipiras, a figura do juiz é ridicularizada, a do delegado e a da família também, com a jovem casando grávida, condenada.
ZH – Como passar a mensagem certa aos jovens?
Paixão – Dando orientação moral e religiosa, e não jocosa."
Parece que o MTG quer acabar com uma das coisas boas que o Getúlio Vargas fez, que foi a “invenção” do Brasil. O Getúlio criou, ou melhor, incentivou e ajudou a sedimentar a idéia de uma cultura brasileira. Uma música, uma culinária, um folclore brasileiros. Foi quem primeiro tentou fazer do Brasil uma nação com uma cultura um pouco mais homogênea.
Quando o MTG vem com essas idéias, negando a cultura brasileira e impondo uma cultura gaudéria, está indo pelo caminho errado.
Estão querendo “desinventar” o Brasil.
Se querem definir regras, padrões e seguir a tradição dentro do CTG, tudo bem.
Mas sair do CTG e impingir essa “tradição” em cima das festas juninas, é demais. E parece que isso está se espalhando para as outras escolas.
Daqui a pouco vão querer institucionalizar um Natal gaudério? Uma Páscoa gaudéria? Ou, pior, quem sabe até transformar uma das mais importantes tradições brasileiras e nos obrigar a festejar um Halloween gaudério?